_____ TEXTO Conceitual.

Comunidade UX nasceu em meio a maior crise de saúde global no ano de 2020. “UX”, a partir do conceito da sigla em inglês de user experience, vinda dos projetos de design enquanto interface ou em tradução livre, experiência de usuário. UX também se refere a um nível de usuário experiente, um expert em nossa apropriação.

O contexto inicial de sua idealização foi a invisibilidade. A invisibilidade imposta e a invisibilidade seletiva. A impermanência de artistas, natos ou não digitais, muitos deles residentes em periferias e nas regiões metropolitanas, em suas ausências temporárias no complexo mundo supra e pós-digital catapultado pelas necessidades de um universo social migrado à força para as telas pretas dos dispositivos de imagem na contemporaneidade durante a pandemia. A maior experiência pós-digital contemporânea até então podemos dizer. O digital em toda a vida. Mas nem todos estão lá.

O “novo normal” continuou sendo normal, e menos “novo”. Normalizante pelas narrativas hegemônicas em progressão de escala em um universo para iniciados, para usuários experts produzirem seus conteúdos, suas verdades, a partir de modelos já conhecidos como estruturas de dominação – poder econômico, poder tecnológico, poder biopolítico do ciberespaço cada vez mais amplo. O privilégio de base estrutural.

O “novo” não chegou a nascer. Padeceu nas mesmas estruturas privilegiadas dos generosos pacotes de dados, do home office de classe, dos hardwares e smartphones de última geração, do permanecer em bolha frente ao sobreviver no caos do desalento para a esmagadora maioria da população, entre elas os artistas. O colonialismo está no digital, introjetado na aprendizagem de máquina, no enviesamento de dados, nos algoritmos de opressão, no viés inconsciente, nas ferramentas de visualização, nas redes sociais, nas ferramentas de busca, na falta de democratização do acesso à instrumentação digital e é preciso tirá-lo de lá.

Comunidade UX se projetou como resposta a partir de um modelo experimental e microscópico na cidade do Rio de Janeiro. Resposta esta a ser construída de forma compartilhada e ao longo do tempo. Um projeto em movimento através de narrativas heterogêneas, descentralizadas, coletivas, híbridas, identitárias, sociais que estão centradas na elaboração prática/conceitual que parte de seus formadores/curadores em sua maioria, pretes. A inversão do que é centro e do que são margens, a correção epistémica do que é minoria em maioria é um dos eixos chave do pensamento crítico nessa iniciativa. A ideia sobre a tecnologia de ponta e a arte. O que de fato é isso em contexto de uma maioria à margem do ideário e do acesso tecnológico imposto socialmente.

Arte e tecnologia através do olhar de protagonistas que traçaram suas trajetórias em processos de emancipação, rompendo com as ausências condicionalmente impostas de forma sistêmica e promovendo a justiça social que se consolida em presenças legítimas e disruptivas. Que atravessam como onda sísmica as muitas fronteiras e barreiras existentes por muitas vezes entre muitos mundos assíncronos e sem conciliação.

Comunidade UX é uma plataforma de cooperação, informação e formação sobre arte digital e tecnologia que culmina com a exposição dos trabalhos criados por seus artistas participantes, formadores e curadores, que são artistas com trajetórias contra-hegemônicas. Para fomentar e colaborar na construção dos projetos, serão oferecidas palestras e workshops sobre temas como Arte Digital/Cultura Digital; Decolonialismo Digital; Afrofuturismo; Sociedade Pós-Digital; Cidadania e Direitos Digitais; Web 3.0, Blockchain e CryptoArt.
UX parte de um desejo de apropriação territorial desde redes digitais informacionais a metaversos de mundos híbridos (real/virtual) artísticos digitais, já iniciada por muitos e em expansão através destes artistas e demais protagonistas nos muitos lugares do ciberespaço, na sociedade pós-digital. Na intenção contínua de formação de novos artistas e usuários experts, nas comunidades em transformação para uma verdadeira e integralizante Comunidade UX com participação de todes.

Bienal Arte Digital
(Tadeus Mucelli)